Querer

Sabe aqueles pessoas que querem demais?
Pois é.
Pessoas como eu.
Hoje cedo meu pai me disse que sou uma dessas.
Porque reclamei que o pão de queijo que comprei estava ruim.
"Nada pra você está bom."
É, verdade, sou mesmo uma chata.

Queria mesmo que as nuvens fossem de algodão.
Queria que o povo tivesse voz ativa e mandasse no próprio destino.
Queria que o acesso nunca fosse negado.
Que o sanduiche do McDonald's fosse maior.
Que os bêbados e febris não engolissem a cachaça como forma de matar a fome.
Que tatuagens pudessem ser tiradas sem dor.
Que a faca, mesmo depois de muito usada, não perdesse o corte.

Queria que luz, espaço e tempo fossem fáceis.
Queria poder limpar a sujeira.
Queria saber usar os porquês.
Queria ser criativa.
Queria que não existissem armas de brinquedo.
Queria que a violência ficasse restrita aos gibis do Wolverine.
Queria ser boa em Biologia.
Queria não ser assim.
Queria uma guitarra elétrica.
Queria não ser tão vítima da loucura ou da paixão.
Queria mandar no meu coração.
Queria não sofrer, não chorar
Queria não ver quem eu amo chorar.
Queria dormir e não acordar mais.
Queria pegar o meu tênis e atravessar a cidade, ir atrás do meu melhor.
Queria que pessoas como Zeca Baleiro fossem eternas.
Mas não. Melhor assim.
Visto meu melhor rosto, meu melhor sorriso.
Queria gritar em cinco mil auto-falantes.
Queria que ninguém saísse de casa, ninguém.
Queria uma dança bem diferente.
E queria que fosse pra sempre. Porque nem todo carnaval tem seu fim.