quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Amar


Fui jogada a um mundo humano cheio de subúrbios, onde as pessoas nos fazem sorrir e chorar ao mesmo tempo.
As vezes tenho vontade de bater e ofender, principalmente quando as
pessoas de um modo geral, não conseguem me compreender, mas, principalmente quando se trata daqueles a quem amo.
Sou um ser humano com fragilidades e carências, e preciso ver e tocar para saber que o que traz alegria e tristeza é real e não fruto da minha própria imaginação.
Entretanto, sendo honesta, confesso que nem sempre essa medida aplaca minha insegurança, pois o coração, tolo que é, muitas vezes duvida da própria existência, mesmo sendo o responsável pelo próprio palpitar, o que dizer então de verdades que ultrapassam o meu controle?
Essa é uma daquelas guerras internas que existem com a finalidade de transformar o guerreiro em um herói destemido e forte, capaz de conhecer e vencer a si mesmo.
De uma coisa, estou certa, Shakespeare era um idealista, por isso supos que o próton e o elétron pudessem acabar juntos, mas o mais provável é que eles terminem acabando um com o outro.
Quando somos jovens acreditamos sermos os donos da razão, tendo certeza dentro de nossa auto-suficiência de que apenas as nossas opiniões importam e que são mais verdadeiras que as alheias. Com a experiência, sempre vem a dura lição, de que tanto Shakespeare quanto nós, os jovens, estávamos errados.
Divergências muitas vezes mais afastam do que aproximam as pessoas.
E o amor, para se consolidar tem que ultrapassar a maior das dificuldades: o ser humano e sua incapacidade de ser solidário e generoso.
Amar é impor franqueza, esquecer as mesquinhezas, abandonar as provocações, apresentar pontos de vista civilizadamente, sabendo o momento de parar de falar para ouvir, semear a amizade e estar sempre presente na vida do ser amado. É saber ceder, compreender o momento de recuar e de abrir mão de nossas vontades pessoais, sendo compensados com um sorriso de felicidade. É entender a necessidade de se colocar no lugar da pessoa e refletir sobre como reagiríamos em situação semelhante. É assimilar o significado de solidariedade e generosidade.
É por isso que amar verdadeiramente é tão difícil, pois é como se as pessoas acalentassem em si apenas fragmentos, pequenas demonstrações do que realmente pode vir a ser o amor.
E tolo é aquele que julga o amor ser apenas fonte de prazer e felicidades, porque ele também traz consigo a dor, a raiva, a ingratidão, a incompreensão, mas a maneira como cada um lida com isso é que nos torna capazes de amar ou não.
E os jovens com o tempo aprendem que precisar de outra pessoa para seguir adiante não é tão difícil quanto parece e nem nos torna fracos, bem como, que mudar de opinião é plenamente normal e aceitável.
Sei que sou difícil, sei que não sou uma Lady recatada como você apreciaria que eu fosse, e sinto que jamais serei.
Existe uma intensidade dentro de mim que me faz sentir com mais força e calor esses sentimentos e idéias do que pode vir a acontecer com a maioria das pessoas, e isso muitas vezes me confunde e me faz perder o controle, mas jamais me faz ser uma traidora da minha própria consciência.
Além de tudo me faz concluir que o que senti são pequenas partes fortes de um amor que teria sido grandioso, se ambos não tivéssemos agido tão impulsiva e intempestivamente.
Creio que o amor verdadeiro ainda baterá na minha porta quando eu aprender a confiar na minha segurança, e na minha própria capacidade de ceder, impor e acreditar no ser amado, no momento certo.
Tudo tem uma razão de ser, não acho que Romeu e Julieta precisavam morrer no final, mas de que lhes serviria uma vida longa e saudável se não soubessem ser capazes de fazerem suas próprias escolhas, cedendo e impondo, vencendo as próprias divergências e preconceitos? Admitindo que o amor era mais importante que qualquer outra coisa?
Do mesmo modo, que graça teria termos vivido sem nos esbarrarmos e termos aceitado que somos capazes de sermos completados com o que nos falta, com o que é diferente de nós? Porque se oiguais, será que realmente teríamos nos apaixonado?
No fundo eu quis tê-lo ao meu lado justamente por cobiçar suas características, por admirá-las em você, por mais que elas possam ter nos afastado quando não as compreendi e vice-versa.
Chegamos naquele típico momento em que nos perguntamos a razão de nossas escolhas, sempre que um relacionamento chega ao fim, acredito que nosso envolvimento fez ambos aprendermos duras lições que durarão por muito tempo ainda.
Por muito tempo , eu o desejei,amei, cobicei, admirei. Por um longo tempo, você me fez conhecer o significado literal da paixão e seus transtornos. Um sentimento forte, ilógico e sedutor , como o canto mitológico da sereia, que me fazia sentir vontade de estar ao seu lado indefinidamente, independentemente de qualquer razão lógica pessoal.
Você me fez entender que por mais prática e autoritária que eu seja, sou capaz de amar e de sentir romantismos.
Mas você também me ensinou a outra faceta dura da moeda, que isso pode trazer decepção, frustração, raiva, culpa, e a necessidade de desejar mais do que me era oferecido.
Quando finalmente compreendi que você não estava disposto a acabar com as minhas desconfianças, que não estava disposto a ponderar no quanto suas escolhas me feriam e enlouqueciam, e que por mais que eu argumentasse nada mudaria, que você jamais perdoaria meus erros passados esquecendo-os, desisti de tentar ceder e de me colocar no seu lugar.
Então, a verdade caiu como um piano pesado na minha cabeça: o amor havia acabado.
De ambos os lados, por ambas as partes.
Quando mágoas e discordâncias superam a vontade da união, e isso começa a nos destruir, é porque o amor acabou.
Talvez tenha sido covardia de minha parte culpá-lo, talvez tenha sido egoísmo de sua parte me culpar, pois no fundo, ambos erramos.
Mas no fim, o que acaba realmente importando é o "The End" e não quem é culpado ou deixa de ser.
Tantas vezes eu desejei mudar e cheguei a rogar em meu íntimo que você viesse e me ajudasse, mas a verdade se instalou, e cruel que é, me mostrou que você não ultrapassaria seus próprios limites por mim, me fazendo enxergar que eu também não conseguiria fazer isso por você.
Estavamos ambos sendo teimosos, querendo num duelo de vontades, impormos nossas verdades e desejos, esquecendo realmente de nos importamos um com o outro.
As vezes amaldiçou você por ter aparecido e me feito fugir da ilusão de que eu controlava meus sentimentos e minha vida com redeas curtas, em outros momentos, sou grata a você por ter me mostrado que não sou tão dura quanto sempre supus.
E apesar da curiosidade de saber como poderia ter sido, de como você está, de quem você realmente é, pois em nossa convivência acabei conhecendo apenas uma parcela de você, assim como sinto que você não me conheceu totalmente, concluo que tudo deve permanecer onde está: no passado.
Sei que você demonstra estar bem, provavelmente melhor sem mim, isso não me fere, porque quando amamos alguém, por muito ou pouco tempo, frágil ou intensamente, não importa, se o sentimento é verdadeiro, desejamos ver essa pessoa feliz, em paz, e saber que você supera ou já superou o que passamos me dá ânimo para seguir adiante e agir do mesmo modo.
Não sei se algum dia sentirei algo tão forte novamente por alguém, que é o mais próximo pelo que já passei do que deve ser o amor verdadeiro,e nem vou perder tempo com divagações sobre o futuro.
Desejo no momento apenas segurança e previsibilidade, e isso é algo que só poderei encontrar sozinha, naquela luta interna, na auto-superação.
Homens sempre me aparecem, mas nenhum que me faça desejar despertar do sono da solidão e da minha própria consciência.

Com respeito e alívio me despeço

Cris Rubi, a Megera indomada.

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