terça-feira, 23 de dezembro de 2008


Tantas vezes pensei em te escrever uma carta e tantas vezes desisti.
Cartas escritas, daquelas antigas que transportam sonhos e sentimentos dentro de um envelope fechado, com um selo estampado,
que chegam ao destinatário dobradas e cheias de marcas de tanto andar na bolsa do carteiro.

Pensei em escrever uma carta que trouxesse nela a essência do meu eu - para que me conhecesses.
Tantas vezes comeci e tantas vezes amassei o papel e joguei fora.

Parece que a caneta já não consegue transpor para o papel os sentimentos da mesma forma que antes o fazia - é o progresso, agora escrevo no computador os sonhos e desejos,
descarrego as raivas e as frustrações e, a um canto, deixo o meu papel e a minha caneta, esperando por um dia em que inspirada neles pegue e para eles passe a minha vida e o meu sentir.

Mas porque te escrever agora e aqui?
Talvez porque sei que nunca irás ler a minha carta, nunca a poderás rasgar, aqui ficará para sempre, como testemunho do que sinto e do que choro, da saudade e da tristeza,
aqui onde nem vc nem ninguém a poderá destruir.

Escrevo-te aqui, onde alguns anónimos e outros conhecidos - todos ainda sem face mas todos queridos, passam,
e podem ler o que te escrevo e saber de mim, mais do que vc alguma vez quiseste saber.

Tanto te queria dizer, assim frente a frente,
olhando nos teus olhos e tentando decifrar o que vai na tua alma, alma perturbada eu sei, porque só uma alma só,
insegura e perturbada tem uma capacidade infinita - como tu tens - de magoar repetida e deliberadamente alguém que afinal nunca te fez mal algum.

Não é possível, tens uma forma de ser que só vc mesmo entende.
Por vezes meigo, carinhoso, todo meu - e logo a seguir distante, frio, só, fugitivo, desaparecido.

Um dia disseste, pediste, com aquela voz baixa e pausada,
em tom carinhoso e melancólico "confia em mim, vai, por favor...confia", olhando-me com uns olhos castanhos meigos e só meus...e eu confiei.
Não me arrependi, isso nunca.

O que vivi foi bom demais, o que sinto até hoje, é forte demais para querer arrependimentos. Mas as recordações poderiam ser tão mais bonitas e reconfortantes,as memórias tão mais quentes e alegres,
o sentimento que restou tão mais valeria a pena.

Por isso, por favor, nunca mais digas a alguém: "Confia..."
se depois vais destruir toda a confiança e vais magoar tanto e tão profundamente quem pediste que confiasse em ti.
Arranja outra forma de conseguir o que queres, mas não peças para confiar em vc.
A confiança é algo tão frágil quanto precioso, é algo tão profundo quanto difícil de dar, é algo que quando acaba, nunca mas nunca mais volta (Não do mesmo jeito), fazendo com que a vida e o sentimento mudem, fiquem mais tristes e mais desiludidos, mais desesperançados...

E não joques com os sentimentos como se joga aos domingos futebol com os amigos - intensamente, inconsequentemente, sem olhar para o lado, sem te importares com o resto, displicentemente.
Não acabes com a confiança, com o respeito, com a vontade de quem ama a ti. Não roubes a alma e o coração para depois os deixares ali,abandonados e jogados no meio da rua.

Se continuares assim, um dia vais encontrar-te sozinho, sem amor, sem ternura, sem sentimento, de alma vazia e coração esquecido - e quando quiseres voltar atrás, vai ser muito tarde.
Tarde demais para viver, para amar, para gostar, para te entregares, para servc mesmo, de alma completa e solta.

Vai ser triste um dia te encontrar, te olhar nos olhos e ver tristeza e arrependimento, mas sei que se continuares brincando com os sentimentos de quem te quer,isso vai acontecer um dia.

E eu vou chorar pelo que não fomos,
pelo que não sonhamos,
pelo que não vivemos,
porque tu,
fugiste de ti mesmo.

4 comentários:

Anônimo disse...

eita, quanta dor por aqui!

mas é isso mesmo! importante verter a dor em cria-ação

;-)

Confissões de Um Ego disse...

|Bem so passei pra agradecer por acompanhar meu blog e retribuir...e desejar um feliz natal e otimas festas...

Anônimo disse...

Todo o sentimento
Cristóvão Bastos - Chico Buarque/1987

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo
Da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar
E urgentemente
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo o sentimento
E bota no corpo uma outra vez

Prometo te querer
Até o amor cair
Doente
Doente
Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
Te encontro, com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei, como encantado
Ao lado teu

só pra compartilhar, moça... um beijo.

Cris Rubi disse...

Lindo Jason, obrigada
bjaoooooooo