quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

A noite


Ontem a noite o sono demorou a embalar-me .
Tentei me aconchegar nos lençóis, fazer frente a noite fria que não me permitia colocar a hipótese de me levantar e andar a vaguear pela casa como tantas vezes faço. Uma noite mal dormida é uma porta aberta para deixar a memória do passado se instalar em pensamentos .
Bem, tentei deixá-los não entrar, mas eles se instalavam e cada pedacinho de mim passava aminha frente, como uma tela de cinema.
Como todo mundo, a minha vida podia se dividir em várias etapas , a infância mais ou menos feliz, as rebeldias da adolescência, a entrada na vida adulta…mas para mim isso pouco importa. A minha vida se divide em duas grandes etapas, o antes e o depois. O antes aconteceu mais ou menos há oito meses atrás, em que todas as peças do puzzle se pareciam encaixar, mas havia sempre uma que parecia solta, uma que o meu coração expulsava. Como acho que nunca é tarde para um acordar ou recomeçar transformei o antes num depois novo e totalmente desconhecido. Tracei metas e percursos, muitas noites mal dormidas pensando como iria ser o dia seguinte, e agora vivo o durante. Um durante fragilizado, um durante em que algum cansaço e alguma tristeza ainda se deitam ao meu lado e às vezes uma lágrima que tentei esconder durante o dia cai no silêncio da noite.
Aliás é de noite que tudo parece mais intenso, mais profundo, a noite na sua plenitude e mistério torna-se umas vezes bela, outras assustadora. A noite é a musa inspiradora dos poetas, a eleita dos amantes, e a ameaçadora para os tristes e solitários.
Quando o Sol se despede e a noite veste o seu traje de gala, com estrelas e a lua no horizonte, os corações tristes , solitários e medrosos tornam-se mais enfraquecidos, mais vulneráveis e por isso que cada um, a seu jeito, tenta fazer com que o dia chegue depressa, porque depois do anoitecer vem sempre um novo amanhecer!
As noites começam aquecer, embora as minhas ainda continuem um pouco frias e tristes e eu tento esquecer as memórias de um passado recente, queria acordar amanhã e sentir que era de verdade um novo amanhecer, não mais uma página no calendário, que não era mais um robot mecanizado e com tudo programado. Eu sei que nenhum dia é igual ao outro, há sempre uma pequena ou grande diferença, as pequenas esquecemos rapidamente, as grandes fazem história e invadem-nos a mente nas noites de insonia. Hoje senti falta do mar, senti falta de lutar contra ele como uma marinheira disposta a salvar o seu barco. Hoje senti falta de alguns sorrisos, senti falta de voltar a sorrir. Mas hoje também senti que era capaz de vencer o mar, capaz de soltar as amarras e ganhar a felicidade...
sinto um sorriso ainda trémulo a tentar sair dos meus lábios...
um sorriso que começa apanhar confiança, porque deixei de acreditar que a felicidade passa pelos outros, mas a felicidade começa em mim...e passa por mim!
Não posso ser feliz nem fazer ninguém feliz senão me sentir bem comigo,
e no meio da escuridão começo a ver uma pequenas luz que me guia no meu caminho,
só espero não perder o rasto e conseguir fazer as minhas noites serem mais quentes e mais iluminadas...

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